terça-feira, 29 de julho de 2008

PIEDADE

Estive pensando sobre as coisas que mais causam pena nos humanos. Tiro por base o que sinto, o que penso. Sinto pena por coisas corriqueiras, que enchem nosso cotidiano: uma velhinha, simplesmente por ser velhinha; um cachorro feridento ao sol do meio-dia; uma criança faminta...
A piedade é desses sentimentos impotentes, só existindo até quando a mesma não pode ser sanada. Se pudermos realizar algo que diminua ou extermine de vez esse sentimento pesado, estaremos diante do dever cumprido e nosso espírito parece revigorar-se diante disso. A caridade é a cura para a piedade; mas nem sempre aquela sana esta. Muitas vezes somos invadidos por uma torrente de impossibilidade; buscamos uma saída para a solução de problemas que nem ao menos sabemos exatamente o que são, então assistimos como meros espectadores a uma cena deprimente, sobrando apenas um nó na garganta, um aperto no peito, restando apenas segurar a tímida lágrima.
Quisera não sentir pena por ninguém. Já me disseram ser a piedade o sentimento mais vil que se pode nutrir por alguém. Discordo. A piedade é caminho para o afago, à mão amiga, para o auxílio necessário.
Muitos confundem piedade e desprezo. A verdadeira piedade não se regozija com o infortúnio do próximo; mas enseja doação. Quem se diverte com o infortúnio do próximo, alimenta a inveja; e isso sim é algo extremamente negativo, perigoso.
É possível sentir pena de si próprio? Claro que sim. Mas isso é coisa de gente acomodada, infeliz e que não faz exatamente nada para reverter esse quadro. As pessoas mais infelizes são as que sentem pena de si próprias. É preciso fechar os olhos para tudo o que é vida, toda essa beleza misteriosa que nos cerca e perder tempo sentindo pena pelo que não desfrutamos, pela fatalidade criada no nosso afã, colocando-nos como um batalhão que depõe as armas antes de conhecer o opositor.
Desse tipo de gente eu não tenho pena: gente que sente pena por si própria. Acho o cúmulo do comodismo ter a infelicidade por opção; pois só nós mesmos, melhores que ninguém, podemos (devemos!) fazer algo em benefício próprio.
Quando sentir pena de si mesmo, ligue o som e ouça sua música preferida; perfume-se para si; vista sua roupa mais bonita nem que não vá para nenhum evento especial; abra um garrafa de vinho; sinta-se mais atraente diante do espelho; esqueça as contas vencidas e não pagas e sonhe, sonhe... Sentir pena de si próprio é mesmo coisa de gente besta!

Hérlon Fernandes Gomes, Brejo Santo - CE, 29 de julho de 2008.

domingo, 20 de julho de 2008

PRECE AO SENHOR, MEU DEUS

Senhor, revigorai-me a alma,
Restaurai-me a paz, iluminai-me os caminhos.
Preciso tanto de Vossa luz;
Preciso tanto alimentar-me de Vossa esperança alentadora.
Entrego-Vos meu destino
E tenho fé de que cada amanhecer seja uma surpresa feliz,
De que a cada dia Vossa presença se reflita nas minhas vitórias
E que todas elas me engrandeçam em espírito.
Peço o afago da Vossa mão em todos os segundos do meu tempo,
Quero sentir-Vos, Pai – de quem me socorro na desolação.
Abençoai-me a vida,
Abençoai-me o presente,
Abençoai-me o futuro.
Que, diante de qualquer obstáculo ou tentação que me descaminhe, eu possa enxergar sempre Vossa vontade.
Amém.


Hérlon Fernandes Gomes, Brejo Santo - CE
20 de julho de 2008.

P.S.: Gosto de orar através da escrita. É uma forma de bênção. Que o Senhor me atenda.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Crítica ao livro Geminianos - Poemas de Descoberta

Amante da introspecção “lispectoriana”, Hérlon Fernandes Gomes nos presenteia com esta obra de profundo mergulho incondicional n’alma. Discorrendo sobre sentimentos afins à nossa condição, mesmo revestidos de outros corações, oferece-nos um referencial oportuno para o polimento ponderativo do SER humano. Mesmo visto sob o alcance visual individual, possibilita reflexões nuas e marcantes do nosso universo particular. A profundidade das colocações pode, num primeiro instante, não sensibilizar mentes incipientes, contudo quando houver aproximação entre o conteúdo assimilado e a maturidade cognitiva do leitor o impacto compreensivo e transformador tornar-se-á inevitável. Vejo esta obra como rara e fundamental para o processo de crescimento intelectual ao qual somos chamados diuturnamente, devendo, por isso, constar entre as chamadas obras essenciais. A oportunidade de tecer comentários sobre este magnífico escrito, bem como sobre o seu talentoso autor, causa-me prazer.

Ronaldo Lucena Miranda

P.S.: Esta é a orelha de Geminianos- Poemas de Descoberta, a ser lançado em breve, em data a ser confirmada. Orgulha-me receber uma crítica como esta, que compreende de maneira arguta a essência do que procurei expressar nos poemas desse livro. Ronaldo é um ser humano ímpar: este médico realmente imbuído de seu juramento, este homem de espírito generoso e de tato sutil para as manifestações artísticas, culturais, humanas e universais.

terça-feira, 1 de julho de 2008

ALEGORIA TRISTE

E o mundo finalmente perdeu a magia...
O espírito de tudo acabou se exilando num canto secreto e as coisas foram parecendo cada vez mais mortas e comuns. O sol parou de dialogar com o espírito humano, e as estrelas deixaram de ser suas cúmplices - a natureza inteira entrou num automatismo vegetal. O homem foi despertando para a lógica e questionou um Criador... Os comentários nem sempre foram suficientes, diante de teorias que seriam definidas e defendidas ao longo dos tempos, a sangue, suor e lágrimas.
O homem vai se entregando ao impulso do ter... Há crueldade nas ruas, a paz vive ameaçada. Quem nos livrará desse feitiço? Alguns chamam de Deus. Dizem que Ele retornará. Está em cada um de nós, nessa consciência que se eleva, nessa magia-antídoto que nos faz reconhecer o bem, que nos coroa diante dos ímpios...

E se ainda resta a esperança, ela é a fé que nos precisa mover a um tempo libertador.



Hérlon Fernandes Gomes, Brejo Santo - CE, 1o de Julho de 2008.
P.S.: Para a criança que às vezes se desperta em nós e acaba por nos tornar mais íntimos das coisas transcendentais.