domingo, 16 de agosto de 2009

BATISMO

Ele caminhava sozinho pela praia deserta. Era cedo da manhã, os raios mais quentes do sol se anunciavam timidamente entre um vento mais frio, entre nuvens que serviam de cortinas que se abriam com o passar das correntes de ar.

Abaixou-se para pegar um búzio entre tantos, guardou-o consigo... Demorou-se um pouco mais para sentir aquela quentura viva do sol em suas costas a denotar essa sensação de existir. Eram coisas tão simples e ele muitas vezes estava alheio, preocupado em sentir o que não lhe pertencia, em aceitar as cores que escolhiam para sua aquarela... Não, ali diante do mar ele reconhecia sua pequenez, mas não se inferiorizava. Ninguém lhe diria como distribuir suas emoções, porque ele era livre para sentir e talvez tivesse a mesma sorte daquele búzio: escolhido ao acaso, reconhecido até mesmo pela beleza singular de suas imperfeições.

Certificou-se de que não havia ninguém por perto. Queria sentir o gosto mais puro da liberdade. Tirou as poucas roupas que vestia e correu para o mar, para que o sal arrancasse as frustrações diárias que ele não desejava colecionar. Gostou do frio, gostou de sentir bater os dentes, pois bem ali, na praia, o sol seria o seu melhor conforto. Deitou-se na areia. O céu azul encheu-lhe as vistas. Fechou os olhos e recebeu da Vida o bronze abençoado sobre seu corpo livre, seu corpo nu, seu corpo limpo, seu corpo santo.

Hérlon Fernandes Gomes

16 de agosto de 2009.


3 comentários:

  1. Tão bom nos entregarmos às coisas simples, fugir do cotidiano, esquecer da cobrança pela sobrevivência que nos tira alguns prazeres esquecidos.

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  2. Li e vi tudo passar pela minha frente como se tivesse vivido este momento. Profundo#

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