segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A felicidade breve é também felicidade



O que eu tinha feito com aquele desejo guardado e empoeirado? Percebi que ele não estava tão escamoteado ou irrecuperável quando bati os olhos novamente em ti.

O tempo nos uniu novamente sem que para isso precisássemos de esforços. Agora, nada poderia criar barreiras entre esses desejos impublicáveis do passado. Teu coração já não tinha mais dono. Éramos agora nós, um diante do outro, com tão pouco tempo para compensar esse passado de hibernação.

E foi tanto medo de que essa ânsia só me pertencesse. Enfrentei os teus olhos porque já não éramos ilegais. Agora era tão bom não ter de fugir deles; era tão bom sondar teus pensamentos, imaginá-los como pares dos meus desejos.

A noite foi longa até restarmos apenas nós dois e a manhã batizando o nosso primeiro beijo. Fecho os olhos por alguns segundos para poder captar esse momento: meus dedos entre teus cabelos, o gosto bom da tua boca, os nossos desejos nos queimando...

Lulu Santos nos mandava “nos permitir” e assentíamos para essa oportunidade que se nos oferecia. E, calmo, olhava para ti, simplesmente por olhar para compartilhar meu sorriso mais verdadeiro ao teu lado.

Na cama, nem imaginava que éramos tão íntimos, que conhecerias tão bem os caminhos do meu tesão absoluto, que te entregarias a mim como alguém que eu conhecesse os mistérios mais sublimes de comunhão.

E vimos estrelas. E conversamos. E não veio o sono.

Foram três dias de saciedade de uma sede enorme. Eu bem queria poder te beber todos os dias... Mas respeito o encanto da Cinderela e aceito voltar para o borralho, onde eternidade é apenas essa saudade palpável que sinto de nós dois, ao brinde de vinho, beijos,  Maria Bethânia e nossos corpos elaborando a alquimia da paixão.

Volto para casa feliz. Nada de desilusão, nada de desalento, nada de esperanças que me façam sofrer. Foi desejo liberto o que vivemos. Eu me banhei de luz em ti, eu me senti vivo nos teus braços, na hipnose maciça dos teus olhos castanhos.

Culpa? A culpa maior seria ter rejeitado essa oportunidade que a Vida nos pôs de bandeja. Escrevo isso para eternizar, para que o futuro mais na frente não queira me enganar e dizer que tudo não passou de um sonho.

A felicidade breve é também felicidade. Ela não perde a plenitude quando nos assoma como a rapidez de uma estrela cadente.

Hérlon Fernandes Gomes
Guajará-Mirim, Rondônia, 05 de Setembro de 2011.

P.S.: Entrei Setembro no Cariri contaminado de primavera.



4 comentários:

  1. Pois bem, respondeste com este a pergunta que fizeste no anterior. Maravilha, Hérlon!
    Que os ares do Cariri sempre te invadam, onde quer que pares. Que o calor nunca te deixes. Nem o amor.
    Abração, meu amigo.
    Magna

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  2. Obrigado, Magna. O Cariri me presenteia com seus encantos secretos sempre que apareço por lá!
    Abraços, querida!

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  3. Que lindo!
    Paixões assim nos põem vivos.

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  4. Ai amigoooooooooooo passei por tudo isso, foi feito pra mim tbm!!
    vc é perfeito em suas palavras e como sempre estamos na mesma sintonia!!

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