sábado, 5 de novembro de 2011

CORAÇÃO MAMBEMBE



Queria encontrar a chave que rompesse o teu silêncio, porque tua mudez é um enigma, não me diz quase nada pelas tuas atitudes. Eu leio o teu desejo quando me beijas, quando nos deitamos juntos; mas estou longe de conhecer a zona profunda da tua alma, das tuas intenções, onde deve estar o ancoradouro desejado.


Queria o conforto de algumas certezas, queria enxergar tua nudez verdadeira onde tuas emoções descansam puras. Eu também me pergunto se mereço transpor o limite que me permites; eu me questiono se realmente saberei honrar teus tesouros preciosos. Então eu suporto teu mistério; suporto enxergar pelas  frestas  míopes das armaduras que te vestiste contra os que mal te amaram.

Meu coração mambembe, surrado pela poeira das distâncias e pelos espinhos do passado, já não possui ferrolho nem tramelas nas portas, deixa que o viajante entre e vasculhe todos os cômodos, que enxergue a tinta das paredes, sinta a cumplicidade dos móveis... Meu coração mambembe deseja abrigar bem,  longe de vaidades dispensáveis; precisa de morador que se preocupe com as plantas que amarelecem no alpendre, que se deite na rede cativa estendida na varanda.

Não, meus segredos não te assustariam. Minhas desilusões talvez te fizessem chorar; mas elas já foram todas exorcizadas e tornaram mais fortes as paredes deste coração  que pretende ser tua casa. Para cada cicatriz eu também tenho um sorriso; nenhuma tristeza em minha vida foi maior  que qualquer felicidade encontrada.

Agora estamos nós dois, na tua cama. Aliso teus cabelos, sinto tua quentura, desfruto da maciez dos teus lábios... Atravessaríamos a noite assim, sem que me reveles o princípio dos teus anseios, sem que me digas o que realmente pensas ao meu respeito, embora me saiba agradável ao teu lado...

Não, eu não vou atropelar teus passos; não vou vilipendiar a constância do teu tempo. Meu coração mambembe, de terras ressequidas, sempre aprendeu a viver cheio de esperanças, mesmo quando o céu mais azul não prometia chuvas.

Hérlon Fernandes Gomes
Guajará-Mirim, Rondônia
05 de Novembro de 2011.

3 comentários:

  1. Amigo, com estas palavras tão bem colocadas, não há como deixar de aplaudir, com todos os adornos merecidos; demonstras bem como respeitar o que cada um preserva e carrega consigo, principalmente, o medo de se entregar; mas como bem concluístes não devemos transpor além do que nos permitem......entender as pessoas não é fácil, é busca incessante! Mas não percamos tempo aproveitemos, então, o que nos é oferecido.


    Forte abraço!!

    Alexsandra Meira

    ResponderExcluir
  2. MUito bom.
    Parabéns!!!
    vc escreve muito bem, td muito claro, composição simples, mas envolvente e até emocioante!!

    ResponderExcluir
  3. Neste fiquei sem saber o que dizer, Hérlon...
    Talvez, apenas uma vontade de perguntar: se o teu coração é mambembe...o outro é o quê? Interrogações é o que vem ao ler.

    ResponderExcluir