quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O GOSTO AZEDO DA TRAIÇÃO


A palavra traição soa em meus ouvidos como navalha cortante, cilício arquejante na pele do Salvador. Falo especificamente da traição amorosa, da incapacidade humana de satisfazer seus instintos com uma única pessoa. “Quem ama, não trai”. Até que ponto esta premissa é verdadeira? “O que os olhos não vêem, o coração não sente”.
Quando a gente ama verdadeiramente, existe uma porção de sentimento intocável, inabalável, protegida de toda e qualquer corrupção. Essa parte não se modifica, não se diminui na eventualidade de uma traição. Quando se ama de verdade, o objetivo da traição é meramente instintivo.
Mas, vale a pena trair? Isso é tão relativo...
A traição é fugaz e, para quem sofre de crise de consciência, certamente carregará consigo o peso de um crime. Não vou bancar o puritano e incluir-me no rol dos santos. Já traí, sim, e nas vezes que isso me aconteceu, senti-me o próprio Judas, ainda que tenha presenteado meus instintos com todos os prazeres carnais.

A traição tem o gosto azedo e parece feder quando retornamos aos braços de quem amamos. Tem o sabor de uma bela roupa alugada, um doce pequeno que logo se acaba, uma falsa jóia. O beijo traído é insípido; o sexo, animal – sem sublimidade, sem entrega de espírito, mecânico...
Beijo bom é aquele dado em quem se ama: morno, molhado, arrepiante. Sexo bom é aquele realizado com quem se ama: quando somos cúmplices e desejaríamos todo o tempo do mundo para permanecermos abraçados, como se o mundo nos pertencesse.
Quando se ama de verdade, a traição é um erro; às vezes passível de perdão. Por que arriscar o estável, o certo? Por que se contentar com um petisco, se você tem um banquete em casa?
A fidelidade é, sim, a maior prova de amor; pois mostra que o casal se basta, está completo. Quem é fiel, compreende, é amigo, companhia agradável sempre.

Hérlon Fernandes Gomes, Brejo Santo - CE.
P.S.: Publicado originalmente em 2005, na minha coluna no extinto AGENDA CARIRI.

Um comentário:

  1. Penso que não preciso falar nada mais sobre traição.
    A fidelidade é uma postura difícil.
    Pior é ser julgado traidor sem nunca ter sido.
    Trata-se ai de uma infidelidade moral.
    Que sejamos fiéis conscientes.
    Fiéis com nossa consciêcia e coração.

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