terça-feira, 4 de novembro de 2008

VAMPIRO DE ALMAS (CORRESPONDÊNCIA)

Cara Mary Shelley.

 

Ele já não assusta mais. Hoje, parece um conto macabro de Edgar Allan Poe – é mais poético do que assustador. Mas em algum momento existiu. Lembro-me dele para me certificar que me exorcizei de seus feitiços, que meu sangue está limpo daquele veneno que se disfarçava de mágica. Olhando a cronologia das fotografias consigo perceber sua erosão em mim, a ruína que se operava de maneira quase imperceptível. E o segredo estava nesse “quase”.

Eu estive definhando, não fisicamente... As fotografias são capazes de registrar além do superficial e é sobre esse segundo plano ao qual me refiro. Não é tão simples de compreender, mas tenho certeza de que outras pessoas são vítimas dessas criaturas atemporais, porque atacam de dia e de noite, sobre todas as maneiras... Vão apagando nossa chama mais importante, vão nos colocando na berlinda, porque o centro do palco deve pertencê-las. 

Ele me esvaziava a alma, eu me tornava pequena e resignada. O sol me arrepiava porque a luz me era escassa e isso era um prazer engraçado - como um gozo que, de tão bom, às vezes dói... Eu era a cada dia mais sombra... As fotografias denotam isso: um vulto cada vez mais imperceptível. Eu era a vergonha do medo dele,  sua mentira mesquinha camuflada de verdade.

Curei-me na primavera, em dias quando Deus nos presenteia com um dos seus milagres... Minha tristeza me levou até o jardim. Diante de um espelho d'água eu não pude enxergar o meu reflexo. A brisa, que de tão sublime me doeu na face, atentou-me desse infortúnio. Revigorei-me no orvalho das flores, numa esperança que me pousou no ombro, no suspiro profundo que me fez notar as batidas do meu coração.

Insisto em dizer-lhe que as fotografias são as provas incontestes dessa presença e elas me mostram as falsas tintas dessa criatura do medo: tons de uma felicidade postiça de eternidade.

Com votos de que estas linhas encoragem-na, amiga.

 

Cathy.

Morro dos Ventos Uivantes. Sem tempo.

 

P.S.: Seguem as fotografias como atestado do que conto. Peço que observe as suas e compare-as também.

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Hérlon Fernandes Gomes

04 de Novembro de 2008 (Madrugada quente)

Para meu amigo Ivan, um caça vampiros digno de um Van Helsing!

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