sexta-feira, 29 de outubro de 2010

TRISTESSE – MELANCOLIE – PALE BLUE EYES

Teus olhos azuis me servem de mote nesta madrugada desacompanhada. Não se trata de um drama barato. Nada soa como um bolero condoído de amor. A sensação de agora me inunda como o oceano insondável dos teus olhos claros costumava me saciar, a me dizerem, a me decifrarem segredos que nenhuma língua atribuiria uma comunicação similar. Permaneço em transe perante somente a lembrança deles, desterrados numa canção, no acaso de um bar, num lugar distante... Embora essa distância não seja nem de perto suficiente para afogar a recordação desses dois abismos que ainda me perseguem...

Fumei todos os cigarros que pude. Nenhum me deu o alívio da tua presença enigmática. Nenhum teve na brasa fugaz a luminosidade eterna dos teus faróis. Permaneci à deriva, angustiado, triste... Anônimo solitário.

Sim, são todos estranhos.

Não há mais a cumplicidade insondável do teu mistério; não há mais profundezas pelas quais eu me arrisque e ainda assim me sinta abrigado. Agora é só silêncio; agora é apenas desejo.; agora é essa sensação de fome insaciável.

No quarto escuro, meus olhos procuram tua luz.

***

“...linger on your pale blue eyes...”


Hérlon Fernandes Gomes, 29 de outubro de 2010.