O mar me ajuda a não ter medo da dimensão dos meus dilemas.
À medida que percorro a praia vou desfiando minhas interrogações nas pegadas
que deixo na areia, nos suspiros profundos que despejo pela maresia.
Eu pensei que tua lembrança fosse ficar latejando em mim
como a dor de um espinho que, mesmo depois de retirado, fica a impressão de que ainda
está cravado. Não. És mais uma gaveta no meu arquivo de lembranças
organizadas, das quais me permito perder as chaves para que a tentação de
vasculhar essas nuances não me visite.
Eu também pensei que tudo fosse ficar com gosto de drama,
que eu não conseguiria abrir as cortinas do quarto por pelo menos uma semana;
mas tua franqueza me ajudou a me olhar no espelho e realmente tens razão quando
dizes que minha luz não pode se dedicar apenas a ti. Minha luz é realmente
inalcançável para tua treva egoísta, para teu medo pueril acostumado somente ao
corpóreo, ao palpável, ao imediato.
Não te culpo, não me culpo. Não te quero insultar, mesmo o
fazendo. O que mereces de mim agora? Meu silêncio já seria alguma coisa. Mas deixo
nessa areia um rastro de minha poesia incompreendida, meu discurso vão para quem
só foi capaz de sentir a volúpia da minha pele; para quem não teve alma de
enxergar um palmo além do óbvio.
O mar está calmo. A luz é agradável. Consolo-me pelo que sei
que sou. O Tempo é sábio e dá a duração que cada existência merece.
Hérlon Fernandes Gomes
Floresta Amazônica - Brasil
13 de Novembro de 2011.
Reticente e firme? Sinceramente, não vi nada de reticente, mas de firme sim. Firme, direto, surpreendido e, possivelmente, surpreendente.
ResponderExcluirSe em todos os finais pudéssemos chegar assim...acabaríamos ganhando grandes exclamações.