quarta-feira, 18 de junho de 2008

OS AMANTES


Os dois eram solteiros, desimpedidos de viver qualquer romance. Ambos haviam saído de um casamento fracassado há poucos meses, não sabiam bem os rumos certos que os levariam a um ideal recomeço. Criaram, pois, uma (meramente?) intimidade de cama. Moravam em cidades diferentes, foram amigos de faculdade e se achavam simpáticos no convívio diário.
Divorciados, um dia qualquer, encontram-se, trocam telefones, convite dele pra sair, uísque, um quarto de motel... Nascia uma química perfeita. Passaram a se encontrar nesses dias premiados. Levavam uma rotina estafante, de modo que momentos assim tinham um sabor renovador.
O dia era aquele.
Banhou-se, usou o melhor óleo, a melhor lingerie; perfumou-se em diversos lugares especiais e sorria sempre. Dentro do peito essa aflição da ansiedade, os olhos no relógio...
Seis e meia. Era pontualíssima.
Ele era asseado, vaidoso. Assegurava o hálito diante do espelho. Ela mexia com a sensibilidade de sua espinha: dava-lhe arrepios uma simples imaginação. Tirou bem a barba, perfumou-se igualmente em diversos lugares especiais.
Abriu a porta do carro, ela entrou. Cumprimentaram-se como dois amigos, mas seus olhos incendiavam suas almas. Enquanto mudava uma marcha, ele aproveitava e deslizava a mão sobre sua coxa; ela lhe retribuía com um cheiro no pescoço.
No quarto, as palavras deram lugar aos desejos. A maneira como se beijavam e se tomavam um do outro dispensava qualquer explicação. Foram se despindo peça a peça, num ritual cheio de risinhos indecentes. Até que estavam nus, um diante do outro: dois desejos contempladores. A cama era pequena para tanto querer. A massa se movia como se quisesse ser uma só, entre gemidos, cochichos... Ele sabia bem a maneira de acendê-la a chama mais brilhante... Aquela boca possuía um deslizar como um mapa previamente desenhado nos sentidos dela... Seus braços a aconchegavam como se soubessem a maneira exata de acomodá-la... Ela reconhecia dele aquele cheiro característico, que vinha de dentro da boca, no cheiro do suor... Gostava de tê-lo em suas mãos, de esquentar suas costas com o quente do bafo – a boca a desejá-lo e tê-lo como um doce precioso.
E viram luzes.
Depois, o banho tomado. Mais conversa. Agora discutiam problemas cotidianos, planejavam um próximo encontro, ratificavam a saudade de um pelo outro... Não sabiam bem o que representavam para si; sabiam que se gostavam e se entregavam um pro outro sem quaisquer amarras... Cada qual voltaria ao seu mundo comum, cada qual com seus problemas, acompanhando o passar do tempo que lhes premiará em breve com um desejável e próximo recomeço.

Hérlon Fernandes Gomes, Crato – CE. 15 de junho de 2008.
P.S.: Para quem traz no nome o governo da paz.

5 comentários:

  1. Tanto ele como ela fizeram de seus desejos seus guias.
    Foram cumplices de suas fantasias.
    Algo familiar aos dois.
    Uma química anunciada desde o primeiro encontro.
    Desde a época em que ambos eram compromissados...
    Desejos reprimidos, agora em liberdade plena.
    Inspirador.

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  2. olá sou mediadora da comunidade de clarice...
    gostei do seu texto =)
    posso te adicionar nos favoritos?

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  3. Herlim, esse foi profundo, viu? Nossa... Deu-me calor! Saudades de beber, conversar e fumar com você - mesmo você detestando cigarro! Seus textos têm me matado essa saudade de sua presença tão morna, tão agradável. Sem querer, você foi meu melhor terapeuta, amigo. Saudades do Ceará, saudades do Cariri, saudades infinitas de você, amigo! Avise-me quando do lançamento do livro, farei o possível pra ir.

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  4. Owwwwww ameiiii ... =)))

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  5. Que texto massa
    muito profundo..
    interesantíssimo..
    gostei mesmo :D

    Muito bom seu blogger..
    sempre que tiver tempo darei uma passadinha por aqui..

    Guilherme Figueiredo

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