sexta-feira, 9 de maio de 2008

A RESPOSTA DE LAURA

Ela achava que vivia uma espécie de fracasso. Soava meio pateticamente, mas intimamente se admitia assim. Seus planos foram outros, eram impregnados de um verniz de eternidade. Acreditou uma vez no “pra sempre” e suas esperanças foram se enfraquecendo. Era uma dor na alma que ela não sabia identificar bem. Houve amor em algum tempo, um tempo muito feliz, incomunicável até que percebera o quanto se diminuíra nesses anos.
Sentia-se um troféu do marido. Em algum momento, confiou piamente. Entregara-se toda a ele, arrastara-se consumida por um amor demais. Para quê só agora enxergava o óbvio? Ele amava os caminhos que ela lhe abria, não à sua pessoa. Deixara-se dominar, por querer inconscientemente acreditar que suas profecias mais simples se realizariam, por tentar dar uma chance a si mesma.
Era momento de revidar, talvez uma resposta a si mesma. Cansou-se de ser apenas uma peça no seu quebra-cabeças.

Comunicaria a Sérgio, naquela noite, que no início do ano assumiria o controle da empresa. E não seria um controle superficial. Precisava se sentir viva e útil; precisava reconhecer que em algum momento da vida conseguira caminhar com os próprios passos, construir seu próprio destino e não esperar de graça o poder do acaso. Uma coisa tão simples que parecia se revelar como a coisa mais extraordinária.
O
s dias vindouros deveriam ser momentos em que se daria ao luxo de levar um rumo sem priorizar o marido; preocupando-se muito mais com coisas, fatos que dissessem mais respeito a ela. Como criatura, deveria marcar o próprio terreno e se impor, estabelecendo seus limites, suas escolhas.

P
recisava voltar a se achar bonita, primeiramente porque agradaria a si mesma e isso deveria lhe bastar ao menos na causa principal.
Tinha sido uma mulher dona de si desde sempre, por que agora precisaria de alguém que lhe desenhasse mapas? O amor precisava ser algo palpável, sentido, como algo que muda as cores do dia. Respirou fundo e se deu um "sim" de presente.

Hérlon Fernandes Gomes, Brejo Santo - CE, 10 de maior de 2008.

Um comentário:

  1. Sentimentos de mudança rondam nossos pensamentos sempre.
    Mesmo parecendo confortável a forma que se vive é imprescindivel pensar no novo.
    No que pode ser melhor.
    Sentir-se útil e uma forma de se sentir com vida.
    Sentir que vale a pena viver.
    As quedas nos fazem sofrer a priori...
    Depois nos tornam mais fortes.
    Aprecio por demais sua idéias.
    Seus textos refletem uma sensibilidade ímpar.
    Adoro.

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