domingo, 18 de maio de 2008

À ZELIA GATTAI, COM CARINHO

Hoje o mundo das letras está de luto. Quando se perde um escritor, perde-se também mais da compreensão humana.
Vinha acompanhando aflitivamente o estado de saúde da escritora Zélia Gattai, essa mente lúcida adoradora da vida, das coisas simples.

Jorge Amado é meu escritor mais admirável. Li avidamente seus inúmeros romances e ainda pude partilhar de sua presença viva. Em 1997, resolvi escrever a ele sobre minha satisfação por sua obra, por sua pessoa e, receber resposta a essa carta, foi de uma emoção ímpar. Tenho um “Gabriela, Cravo e Canela” autografado por ele, como um verdadeiro troféu de um fã.
Ainda guardo recortes dos principais jornais e revistas que noticiaram a morte do meu escritor maior.
Paralelamente à obra amadiana, mas não à sua sombra, desenvolveu-se a literatura de Zélia Gattai. Apaixonei-me por “Anarquistas, Graças a Deus”, tornei-me íntimo da vida da menina Zélia, filha de imigrantes italianos. Viajei com o casal a diversos lugares em “Um chapéu para viagem”, “Chão de meninos”, “A casa do Rio Vermelho”, “Città di Roma”... Tenho quase todos autografados por Zélia, sempre tão gentil, tão solícita em responder a seus leitores.
Lembro que uma vez assistia à uma entrevista de Zélia mostrando algumas fotografias das quais ela eternizaria momentos em família. E ela falava a respeito de um livro chamado “Reportagem Incompleta”, uma iconografia da vida de Jorge Amado, feita através desse registro ao longo dos mais de quarenta anos de convivência. Procurei o tal título por todas as livrarias, catálogos, mas não encontrei. Resolvi escrever para Zélia e saber se o livro estava esgotado ou o quê. A resposta veio em um grande envelope, dentro um cartão gentil, com timbre da ABL, e um exemplar do livro, dedicado e autografado! Acho que foi um dos melhores presentes que recebi em toda minha vida. Descobri que o “Reportagem Incompleta” é uma tiragem limitada, de 1986, hoje uma das peças sentimentalmente mais valiosas da minha biblioteca.
Abraço toda a família neste momento de partida, especialmente você, Paloma, que já nos havia presenteado com relato tão lindo em “Um baiano romântico e sensual”, livro escrito a três mãos. Fica a incumbência do cuidado de toda a valorosa obra deixada entre nós, uma obra que ficará aí, desafiando o tempo e a vida, tendo o sabor desse sorriso iluminado da sua mãe querida.


Hérlon Fernandes Gomes, 17 de Maio de 2008 - Brejo Santo - CE.
P.S.: Aos filhos de Zélia Gattai: Luiz Carlos, João Jorge e Paloma, um abraço carinhoso neste momento difícil.

Um comentário:

  1. Segue a obra.
    Zélia agora descança entre os grandes.
    De onde nos brinda e nos inspira.
    Segue a obra.
    Segue a imagem.
    Segue a memória de uma tão grande alma.
    Segue a paixão literária e sensível.
    Ela se foi fisicamente, mas eternizou-se por sua obra.
    Para sempre.

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