sexta-feira, 28 de março de 2008

À ESPERA DE UM MILAGRE


O que fazer de um sentimento dominador? O que fazer desse amor que se transbordava e exigia a submissão dela a quem ela sabia que não deveria mais apostar? Sentia-se a vilã de si mesma. Comparar-se-ia à mãe que covardemente aborta um filho? Somos os maiores vilões de nós mesmos? Dera-se conta disso: somos o impulso ou o entrave. Ultimamente estava sendo essa coisa inerte, esse emaranhado de divagações que a levaria não sei aonde. Sua mente trabalhava processando o eco de suas atitudes, estudando o reflexo de seus sentimentos, planejando momentos que ela desejava ardentemente... Mas sua vida parecia não sair do lugar. Parecia até mesmo que Deus havia se esquecido dela. Às vezes sentia-se ridícula conversando com Ele, como um louco divagando teorias para platéia alguma. Ela era a culpada de tudo isso? Até que ponto somos culpados pelo nosso fracasso? Por que ela era esse espírito tão inquiridor? Desejou ser a mais ignorante das criaturas; desejou a conformação dos imbecis... Fazia tempo não sentia o gostinho da felicidade a fazer-lhe cócegas no âmago... Lembrou da infância... Como se sentia feliz nas férias de fim de ano... Como era boa a expectativa de poder viajar e ver o mar... Isso bastava para preenchê-la de vez! Seu ser parecia se tornar mais exigente; mas exigente de coisas que nem ela sabia definir. O que lhe faltava? Aparentemente coisas tão simples... O futuro lhe causava medo... Precisava, ó Deus, que uma força incógnita a libertasse... E isso era quase uma prece... Só Deus mesmo poderia libertá-la e ela se sentia merecedora de um milagre... Por que não, Deus? Achava-se meio injustiçada e quase praguejava contra o tempo, sem medo de castigos, desafiando as mágicas do universo... Quando seu tempo virá? Haverá um tempo de redenção? O que é preciso ser feito? A vida parecia uma receita e ela tinha pressa em ver qual seria o produto final.
Hérlon Fernandes Gomes - Brejo Santo - CE, 28 de março de 2008.

Um comentário:

  1. Uma convicção dolorosa. Sentir-se fraco e querer rogar ao superior por ajuda faz-me pensar que todos somos fracos. Algumas dores persistem e insinuam algo que jamais perecerá.
    Acredito que o tempo virá.
    Virá sim.

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