quarta-feira, 5 de março de 2008

VAIDADE




Ela gostava de rever antigas fotografias de si própria. Parecia que o tempo conferia às mesmas uma certa beleza inovadora. Percebia que quanto mais o tempo passava, ficava cada vez mais bela naqueles retratos passados. Percebeu que envelhecia. As estampas denotavam o lapidar do tempo no seu rosto.
Sentiu medo? Não era bem medo. Era uma saudade misturada com um sentimento sem nome: misto de frustração e arrependimento. Naquele tempo se achava mais feliz, analisando agora do prisma presente; mas no momento exato do flash, certamente não tinha se apercebido disso. Sempre achara que o futuro seria de dias melhores, a esperança a enchia de uma certeza luminosa por dias melhores. Seria assim amanhã? Talvez quando avistasse fotografias de dez anos vindouros sentiria a mesma sensação – sensação de que se perdeu algo que poderia ter conquistado. O que seria, meu Deus?
Sua pele tinha um brilho... O sorriso era bem mais aberto, os dentes mais brancos. Do que ria? Ou só ria para aparentar feliz? Fazia tempo que não saía de casa, não ia a festas, não tinha uma vida social como antes. A viuvez lhe tirara certas coisas. Alimentava obrigatoriamente um pudor que não gostaria de fazê-lo. Achava que a vaidade faria mal para uma viúva. Não que certas coisas maculassem a memória do falecido. Não era por ele.
Estava deixando de ser ela mesma.

(Hérlon Fernandes Gomes)

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