terça-feira, 18 de março de 2008

LUXÚRIA

Ela estava gostando de não gostar de ninguém. Era um período de grande liberdade; de muitas noites solitárias também. Já estava se acostumando a essa solidão como algo permanentemente normal.
Encontravam-se em horas vagas, ocasiões que surgissem equivocadamente, oportunidades de se curtirem durante um feriado prolongado. Eram mais amigos ou uma espécie nova de amantes?
Conheceram-se há mais de dez anos. Quando casada, ele lhe freqüentava a casa como amigo do casal, especificamente do marido Sérgio. Intimamente, como seu melhor segredo, ela alimentava fantasias eróticas com Danilo. Elas tinham um gosto especial porque se denotavam irrealizáveis. Era o máximo que seu respeito pelo par permitia em termos de traição. Não sentia isso como uma ameaça nas estruturas do casamento. Realmente, este se desfigurou diante de tantas outras coisas... Eram desilusões sobre as quais não queria pensar agora. Seus pensamentos retornavam para quem ela não definira uma ocupação determinada em sua vida.
Agora, além da amizade, dividiam a luxúria. Ela não estava ainda preparada em investir em um relacionamento com todas as praxes, já que se desiludira tanto... Tornou-se muito exigente no esteriótipo do que convencionou como homem ideal. Danilo estava muito longe disso. Era simplesmente sua química sensorial perfeita. Ele sabia como fazê-la se entregar ao limite do êxtase, a se livrar de qualquer pudor, a se dar ao luxo de explorar toda a sua capacidade feminina.
Trocavam opiniões sobre outros eventuais parceiros que encontravam - ele bem mais do que ela. Mas isso não gerava em nenhum qualquer espécie de ciúme; trazia até um tempero especial, porque não conseguiam cobrar ou estabelecer sobre o outro o peso de uma desconfiança, a carência que exige, o cotidiano que sufoca...
A entrega sem compromisso lhe conferia uma liberdade inédita. Era presa unicamente do seu desejo.

Hérlon Fernandes Gomes, Fortaleza-CE, 17 de março de 2008.

Um comentário:

  1. Você sabe como ninguém colocar no papel sentimentos que só se traduzuiriam pela presença, pelo toque... Esse é um verdadeiro dom. Gostaria ainda de poder alimentar seus pensamentos... Fica com Deus.

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