terça-feira, 15 de abril de 2008

O CASARÃO DA FAMÍLIA VIANA ARRAIS

O QUE SOBROU DO CASARÃO - 1994

O CASARÃO RECONSTRUÍDO POR EFEITOS DE COMPUTAÇÃO


A tarefa do verdadeiro mestre é iluminar. Iluminar sempre. Cheguei à Vila de Brejo dos Santos em 1898, uma época difícil para a mulher, relegada ao segundo plano, às tarefas domésticas, à submissa obediência aos homens. Uma mulher letrada tinha gosto de petulância, vai ver porque o saber sempre fora um privilégio e, nessa época, até poucos homens o detinham. Tempos difíceis aqueles... Em 1907, o Casarão da Família Viana Arrais seria concluído caprichosamente pelo meu irmão, o padre Casimiro. Construção arrojada, sólida, assim como o desejo dele em ver este lugarejo prosperar. Ali, alfabetizei crianças, adolescentes e inúmeras mulheres casadas, todas analfabetas à época. À luz do candeeiro, muitas vezes reuníamo-nos a desbravar os caminhos da ignorância. Era como fazer um cego enxergar, pois o mundo da leitura é uma porta aberta ao alumbramento infinito... Neste Casarão, plantaram-se as melhores sementes do progresso desta cidade... Hoje, a ruína e a lacuna são a presença dolorosa em uma esquina... O saber não feneceu com o tempo; mas não sei que força ignominiosa furtou desse povo o gosto pela preservação de suas raízes... O dinheiro, por si só, jamais será sinônimo de caráter; o poder, por si só, não engrandece um homem... Neste Casarão, valores assim eram discutidos, na balbúrdia das manhãs, nas tardes quentes, entre dezenas de crianças... Eu poderia, hoje, nem ser um fantasma, não fossem os caminhos do saber que esse povo me permitiu abrir... A fantasmagoria mais assustadora permanece nesse vazio, nessa esquina que marca uma falta perpétua, nesse resto de chão que só é saudade.

Hérlon Fernandes Gomes, 15 de Abril de 2007 - Brejo Santo - CE
P.S.: Dedicado especialmente à Dona Marineusa Santana, pelo seu espírito saudosista. Ao amigo Ronaldo Lucena, pela sua paixão à história do Casarão, demolido irresponsavelmente em 1994,e pela vontade em ver prosperar a cultura desta cidade.À Família Viana Arrais, em nome de Auriluce Arrais e João Neto - bisneta e tetraneto da Mestra! Com afeto.


APÊNDICE - Livro Brejo Santo - Sua História, Sua Gente: BALBINA VIANA ARRAIS ,Nascida em: 05.12.1862 Falecida em: 28.02.1951 DADOS: Era natural de Lavras da Mangabeira, tendo chegado a Brejo Santo em 1898, nomeada professora estadual, sendo a 2ª nesta categoria na história da educação do município. Quando chegou a Brejo Santo, todas as senhoras casadas eram analfabetas, exceto Maria Beata e sua irmã, provenientes de Pernambuco. Balbina Viana resolveu ensiná-las a ler, em horário noturno e à luz de candeeiros. Aposentou-se em 1919, depois de 36 anos de atividades. Seu esposo, Lídio Dias Pedroso, farmacêutico prático, instalou a 1ª farmácia de Brejo Santo, que era denominada simplesmente BOTICA. Esta Botica funcionou inicialmente (1898) na residência do Coronel Basílio, sendo depois transferida para o casarão onde ainda hoje residem os seus descendentes.NOTA Balbina Viana, além de ser nome de rua, é ainda o nome do Colégio Estadual. É importante salientar que a família VIANA ARRAIS esteve sempre ligada a todos os acontecimentos e atividades educacionais da terra. Foi um dos seus genros, Nicolau Viana Arrais, que, em 1928, fundou um movimento de Escoteiros.
Autor: Francisco Leite de Lucena

7 comentários:

  1. Herlon, desde criança é amante da cultura e sempre esteve contribuindo com a mesma na nossa terra. Sinto-me feliz em ser amiga de alguém com sentimentos tão nobres. Obrigada, meu amigo,por esta página tãoi linda no seu blog. Um abraço carinhoso .
    Marineusa Santana

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  2. Adoro ler e me sentir em contato com sua cultura.
    Faz-me crêr que ainda há muito de bom a conhecer em você e na história das pessoas.
    Seja sua ou contada por você.
    Parabéns por perpetuar tão belo relato.
    Sabes que sou teu fã.
    Abração, grande amigo!

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  3. Caro Herlon, inconscientemente torcia por esse comentário seu sobre O CASARÃO, não apenas pela importância que esse espaço que criaste já atingiu, inclusive noutras "freguesias", mas acima de tudo pelo deleite que nos causa a sua maneira peculiar, e porque não dizer "shakespereana" (sem exagero), de grafar as idéias e os fatos...! Agradeço ainda a dedicatória. Abraço fraterno e continue nos engrandecendo com a sua presença.

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  4. Parabéns pelo relato, Herlon, meu amigo. Espero que sua crítica suave possa também causar reflexão da mente do nosso povo, que, muitas vezes, por não se interessar pelo próprio passado acaba entregando-o ao descaso e apagando-o da sua memória... Um povo sem história perde sua identidade.

    Belo Trabalho!
    Forte Abraço

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  5. Uma pena como a nossa história vai se apagando devido ao descuido do nosso patrimônio. Realmente, o que Victor falou está mais que certo: "um povo sem história perde sua identidade". Parabéns pela iniciativa do texto. beijos da amiga.

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  6. "A história é um profeta com o olhar voltado para trás; pelo que foi e contra o que foi anuncia o que será."

    Eduardo Galeano

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  7. Minha avô se chamava Adelaide Viana,gostaria de saber sobre minha familia pois ela veio do ceara para o rio de janeiro deixando apenas um irmão

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