Sérgio era um homem extremamente prático, como uma fórmula matemática. Não havia nele um tato especial para os sentimentos; qualquer manifestação de carinho precisava ser ensaiada anteriormente, merecida, para ser exteriorizada. Sua felicidade era calculada em quanto dinheiro poderia lucrar, em quanto conseguiria poupar; seu espírito rejubilava-se quando constatava que tirara vantagem sobre alguém – como um prazer meio sádico.
Casamento era uma espécie de negócio. Claro que era preciso gostar da pessoa. Laura era uma mulher bonita, bem educada, equivalente ao seu prestígio. Era inteligente, atenciosa, ótima amante, devotada à organização da burocracia doméstica. Era, sim, uma pessoa indispensável em sua vida. Achava-se um bom marido; não faltava conforto na vida dos dois. Quanto à fidelidade, era pregador do ditado de que “o que os olhos não vêem, o coração não sente”. Todo homem tinha direito a extravasar seus instintos em outras camas, para fugir do tédio, para se sentir realmente homem, para alegrar o íntimo, para ter um gosto de novidade a lhe habitar as manhãs.
O valor das coisas precisava necessariamente de um preço. Seu âmago sentia isso. O perfume parecia cheirar mais se o preço fosse exorbitante, assim como uma roupa, um sapato, uma viagem, a comida, um motel... Divulgar esses valores para si mesmo tinha um gosto bom, algo indizível por ser indescritível, só sentido dentro de si.
Seu espírito tinha quase uma idéia insana de superação. Não admitia adversários poderosos em sua empresa. Qualquer um que ameaçasse sua gerência logo seria surpreendido pelos seus prodígios, pois seu combustível era justamente o desafio. Não, não precisava se elevar embasado em meios imorais, sua ambição era o seu termômetro. Nasceu para ser o melhor, gostava de ser o destaque e era inteligente o bastante para não se permitir uma subjugação. Era, sim, uma espécie de egoísmo que o estava transformando numa criatura artificial, no arquétipo do que ele construía como se planejava o sucesso do pregão de uma bolsa de valores.
Estava sendo assim no seu cotidiano. Suas melhores amizades precisavam ter características preestabelecidas. Os mais ricos e bem mais sucedidos sempre tinham um tratamento mais cordial – nesses ele conseguia olhar nos olhos. Os subordinados pareciam não possuir nome, eram simplesmente obrigados, pessoas que não tiveram o privilégio de serem dotadas de sua maestria.
Era um excelente ator. Apesar dessa frieza mecânica, conseguia transparecer um ar de cordialidade; mas só porque isso deveria ser conveniente...
Em casa, estava geralmente cansado, com as mesmas palavras ditas em tom baixo, em tom de cansaço, exigindo da esposa uma dedicação que ele acreditava ser, no mínimo, justa... E era ela quem se dedicava mais, enquanto ele se esparramava na cama para ser cliente de seus carinhos, de seus beijos, do calor quente da sua boca... E isso era um alívio... Em pouco tempo estaria sonhando.
Casamento era uma espécie de negócio. Claro que era preciso gostar da pessoa. Laura era uma mulher bonita, bem educada, equivalente ao seu prestígio. Era inteligente, atenciosa, ótima amante, devotada à organização da burocracia doméstica. Era, sim, uma pessoa indispensável em sua vida. Achava-se um bom marido; não faltava conforto na vida dos dois. Quanto à fidelidade, era pregador do ditado de que “o que os olhos não vêem, o coração não sente”. Todo homem tinha direito a extravasar seus instintos em outras camas, para fugir do tédio, para se sentir realmente homem, para alegrar o íntimo, para ter um gosto de novidade a lhe habitar as manhãs.
O valor das coisas precisava necessariamente de um preço. Seu âmago sentia isso. O perfume parecia cheirar mais se o preço fosse exorbitante, assim como uma roupa, um sapato, uma viagem, a comida, um motel... Divulgar esses valores para si mesmo tinha um gosto bom, algo indizível por ser indescritível, só sentido dentro de si.
Seu espírito tinha quase uma idéia insana de superação. Não admitia adversários poderosos em sua empresa. Qualquer um que ameaçasse sua gerência logo seria surpreendido pelos seus prodígios, pois seu combustível era justamente o desafio. Não, não precisava se elevar embasado em meios imorais, sua ambição era o seu termômetro. Nasceu para ser o melhor, gostava de ser o destaque e era inteligente o bastante para não se permitir uma subjugação. Era, sim, uma espécie de egoísmo que o estava transformando numa criatura artificial, no arquétipo do que ele construía como se planejava o sucesso do pregão de uma bolsa de valores.
Estava sendo assim no seu cotidiano. Suas melhores amizades precisavam ter características preestabelecidas. Os mais ricos e bem mais sucedidos sempre tinham um tratamento mais cordial – nesses ele conseguia olhar nos olhos. Os subordinados pareciam não possuir nome, eram simplesmente obrigados, pessoas que não tiveram o privilégio de serem dotadas de sua maestria.
Era um excelente ator. Apesar dessa frieza mecânica, conseguia transparecer um ar de cordialidade; mas só porque isso deveria ser conveniente...
Em casa, estava geralmente cansado, com as mesmas palavras ditas em tom baixo, em tom de cansaço, exigindo da esposa uma dedicação que ele acreditava ser, no mínimo, justa... E era ela quem se dedicava mais, enquanto ele se esparramava na cama para ser cliente de seus carinhos, de seus beijos, do calor quente da sua boca... E isso era um alívio... Em pouco tempo estaria sonhando.
Hérlon Fernandes Gomes, Brejo Santo - CE, 30 de abril de 2007.
Há pessoas que vivem uma eterna competição.
ResponderExcluirCompetem externa e internamente e isso é o combustível de suas vidas.
Nem tudo pode ser posto como prêmio.
Nem tudo pode ser saboareado como vitória.
Não se trata de juízo de valor do que se conseguiu ou irá conseguir realizar.
Se trata de quem somos e do que necessitamos para sermos melhores.
Você retrata bem o real com uma singularidade poética que encanta a todos.
Apaixonante lê-lo.
Adoro!