sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

EU POR MIM MESMO

E vai ter somente gosto de desejo, não mais aquela vontade doída de ser a parte de alguém, de me depender. Vai ser bom me perder um pouco de mim, sem precisar ir tão longe nos meus limites... Vai ter gosto de aventura, de mim me bastando, sem me perder num vazio sem nome. Eu rirei do tempo, das coisas que fiz sérias demais e que não mereciam uma noite de insônia, porque todo o solo pisado é agora conhecido, todo sentimento já tem um reflexo nas paredes do meu coração.

Deixei de ser selvagem. Eu me domestiquei na mesquinhez dos homens, na sede dos poderosos, nos desejos de luxúrias indecentes. Tudo vai ser mais fácil, porque eu li Drummond e ouvi Chopin quando me navalharam a alma. Qualquer dor agora sangrará menos, já que todo antídoto se destila em mim. Não obstante me queimem em praça pública, ainda que tentem assassinar minha poesia natural – este encanto que não me pertence; nada alterará minha fórmula.

Continuarei a nascer como as flores silvestres que perfumam as colinas intocadas; como a pérola cravada no mais profundo e inacessível coral. Porque agora aprendi a me sentir, a me querer bem. Agora descobri o que realmente me importa, aprendi a construir o que me felicita, pois o destino nos pertence.

A inveja dos infelizes me causará piedade. Entregarei ao Pai essa fraqueza dos homens sem fé e estamparei meu sorriso. Cultivarei essa vontade insaciável de amar e buscarei sempre a felicidade: esse sentimento incompleto, essa vontade ininterrupta que me preenche e nunca me satisfaz plenamente.

 

Hérlon Fernandes Gomes

23 de Janeiro de 2009.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

SHOW MARÉ - ADRIANA CALCANHOTTO - CRATO - CE (16/01/09)

O Cariri é uma região que se destaca, no cenário cearense, por sua independência cultural, principalmente. O Crato já tem cara de vanguarda e impressiona não somente pelos artistas que abriga, mas pelo público de fino gosto quando o assunto é arte.

A comunidade intelectual vibrou de expectativa pelo retorno de Adriana Calcanhotto e seu show Maré.

A noite escura, prenúncio de inverno, fez com que algumas pessoas temessem a chuva. Mas São Pedro e Santa Clara certamente colaboraram. A única estrela da madrugada era ela: Adriana.

O West Card Hall estava apinhado de gente, que se dividia entre os pagantes da pista e do front stage. A princípio, aquele apartheid incomodou quem não foi informado sobre essa divisão; por outro lado, os fãs mais calorosos não se importaram em pagar um ingresso mais caro para estarem mais próximos da queridinha da MPB.

Entrou radiante, usando vestes em tom rubro que fizeram lembrar o parangolé pamplona. Salientou a satisfação de estar retornando ao Cariri e foi deveras convincente. Não se apavorou diante de uma falha do som, que deixou todos no silêncio por cerca de dez segundos.

A iluminação em tons azuis e o palco completamente aberto atrás, com a noite negra caririense como pano de fundo, foi o cenário para a performance da artista.

O show MARÉ encantou. O novo álbum é de uma poesia pungente, trazendo composições profundas, como SEU PENSAMENTO e TEU NOME MAIS SECRETO à rítmica PORTO ALEGRE. A cantora não deixou de revisitar seus sucessos, como MAIS FELIZ e VAMBORA, transformando a platéia num coro absoluto.

Injustiça seria não reconhecer o trabalho dos músicos que a acompanham. Eles são a harmonia do show: Alberto Continentino (baixo, guitarra, escaleta, vocais e berimbau de boca), Bruno Medina (teclados), Domenico Lancellotti (mpcs, bateria, percussão, baixo e guitarra) e Marcelo Costa (bateria e percussão)

O figurino da Partimpim impressionou por sua discreta elegância: saindo do vermelho incandescente a um azul mais suave até um sobretudo de veludo azul escuro.

Adriana Calcanhotto é dessas artistas que possuem um encanto especial. Não resistimos ao canto da sereia. Permanecemos hipnotizados e já saudosos de sua presença.

 

Hérlon Fernandes Gomes

P.S.: Escrito originalmente para a coluna do site www.caririfest.com.br