O ser humano é um bicho de
esperanças inacabadas, intermináveis. A insatisfação nos é essa fome constante
a exigir do mundo as plenitudes de
felicidades existentes somente nos nossos desejos, nos nossos “ses”.
Somos mendigos assumidos a
pelejar pela rica e imaterial felicidade.
Hoje, dormi durante a tarde
inteira. É um dos meus maiores luxos. Acordo espantando a preguiça, esticando
braços, pernas... Levanto mais feliz. Esquento água, faço meu chá, ligo o som e
me preparo para pedalar pelas ruas desta cidadezinha amazônica, onde o sol, no
seu descansar, parece ter sido multiplicado por uma infinidade de vezes em
tamanho.
E corro pensando no homem... E
corro pensando em mim, nas minhas exigências, nos meus lamentos, nas minhas
inquietudes... Às vezes me pego sorrindo quando uma lembrança feliz me cutuca a
alma e eu só queria mais e mais desse caleidoscópio guardado a ilustrar meu íntimo
com as tremeluzentes luzes da saudade.
Não, eu não fico desolado. A saudade nem sempre precisa ser um marco
definitivo do que foi sepultado. Ela é nossa memória sensitiva a nos despertar,
no mais das vezes, que as alegrias podem se reconstruídas por incontáveis vezes
no nosso ser. Então eu me apercebo que tenho tempo, tenho coração, tenho alma,
tenho vida e paro para me dizer que essa pressa em ser feliz não pode nem deve
nos afobar, porque a procura é o que nos move, é o que nos impulsiona. O
alpinista, ao chegar ao cume da montanha, demora menos tempo a contemplar essa paisagem
do que a escalar, a desejar e imaginar como é o alto.
O definitivo, o acabado, o pleno
têm qualquer coisa de morte e estagnação em si. Já encontrei muitos potes de
ouro em finais de arco-íris, mas nenhum se apresentou como o tesouro necessário
às minhas ambições de menino, de homem, de santo.
Hei de procurar até o fim, em
tardes assim, em que a neblina desenha pontes nos meus sonhos, mais uma porta
para essas sensações que me abram sorrisos e que me digam que VIVER é a melhor
coisa que existe.
Hérlon Fernandes Gomes
Guajará-Mirim, Rondônia - 08 de Fevereiro de 2012.