quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

FOGO-FÁTUO


As paredes me assombram com o eco de tuas palavras,

O chão está coberto da areia dos teus sapatos

E eu tenho medo e preguiça de varrer o que restou de ti.

Os lençóis me iludem com o teu cheiro natural,

E a cama nunca foi tão grande e insone. 

Meu corpo está marcado por teus beijos e carícias, 

Arrepio-me quando me toco ao relembrar nosso ritual de amor.

***

O relógio se cansa para calcular o tempo que nos separa, 

É preferível contemplar as estrelas

A medir florestas e desertos que nos distanciam.

Ainda assim, é tudo tão vivo de presente,

É tudo tão doce e palpável 

Que esse futuro adiado me anima,

Esse destino de degredo não me desola.

Eu me cubro de esperanças,

Aceito viver de lembranças 

E me acorrento aos fantasmas que restaram de ti.


Hérlon Fernandes Gomes, Lúmen. 

P.S.: Este foi o último poema de Lúmen, uma das coisas mais verdadeiras que gostei de escrever.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

PASSIO



A cegueira da paixão,


Aquela inconsequente e suicida,


De entrega absoluta, de irresponsável senso...


Temo que as frestas de minha visão estejam destrancadas
E agora, de olhos abertos,


Eu não consiga mais mergulhar nesse abismo sem fundo, de tantos perfumes e sensações devastadoras.


Já quebrei todos os meus ossos


E chorei todos os rios de desilusão.


A cegueira se dissipou e me atracou no cais,


Onde os pés se fincam firmes


E a razão é meu império de conforto.


Meu coração sente falta da deriva do desejo,


Do desconforto da espera,


Do alvoroço do encontro.


***


Meu coração jovial sabia ter cor na guerra.



Hérlon Fernandes Gomes, 12 de Janeiro de 2014.



O olhar de Glauber Oliveira, talentoso fotógrafo brejossantense, tem-me inspirado a mergulhar no imaginário dessas fotografias.