sexta-feira, 2 de setembro de 2016

LIBERTAS QUAE SERA TAMEN




Estamos cansados, mas não há sono.

Não há sono, porque é pecado sonhar;

Não há sonho, quando há o que se temer.


Há luto pelo funeral de nós mesmos,

Segregados pelo horror,

Manequins doentes de vaidade,

Perfilados em vitrines automóveis.


É a apoteose da felicidade digital:

Do luxo libertador, do amor fácil e livre,

Do alcance máximo do prazer,

Onde o eterno é efêmero e descartável.



Não há olhos para a dor,

Que é indignação muda,

Dos que têm a esperança borrada de poeira,

Sangue, suor e descontentamento.




Enquanto isso, emergem os templos

Dos profetas da única salvação:

Savaguardas da moral capital,

Jurisconsultos de Deus,

Além do Bem, abaixo do vil metal.



Encoraja-me a sede

De beber o sentimento de irmandade entre os homens,

Sem muros de intolerância erguidos

Em nome de verdades relativas.




Sinto uma monstruosa fome

De ver os hipócritas pagarem suas penas,

De não ter o silêncio como amigo resignado,

De assistir ao despeito ser palco

Aos que merecem o cárcere como espetáculo.



Mas a Justiça é cega e adormecida,

O beco é escuro e suicida.

Tateamos pelas paredes da ignorância

À cata do letreiro da porta de saída.



A liberdade nasce em solo humilde,

Dela é mestra a sabedoria,

Além dos livros, tão íntima como a fé.



Colheremos seus frutos de luz

Com respeito à dignidade,

Ao amor tolerante e plural;

Pela crença no melhor do homem,

No ideal de fazê-lo pleno, justo

Hoje, amanhã e sempre.




Hérlon Fernandes Gomes


31 de Agosto de 2016