terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O SILÊNCIO, O PAPEL E A POESIA



Queria encher o papel do que sou,  do que sinto,  do que almejo, do que pretendo compreender.

Meu atrevimento transformar-se-á  em Silêncio,

Esse vazio-cheio,

Mar onde se pesca o antídoto para a angústia,

Onde se perscruta por onde Deus se esconde e do que é feita a eternidade.

Nessas profundezas abissais,

Não se encontrará a solução, não haverá a corpórea resposta exata.

Baterei na porta, chamarei, chorarei em soluços graves

Porque aqui é campo geral para todas as dores,

Aqui é reino fecundo aos que se entregam a paixões,

Onde a vergonha é honra,

Pecar é perdoar a si mesmo,

E ajuntar culpas não é recomendável para quem só vive uma vez.

A poesia é indulgente e não nega  a enésima chance.

Ela nos confortará com necessárias esperanças

Após noites de breu e lanças de solidão no peito.

Sim, apesar de tudo, haverá a doçura do vinho, da carne,

Cintilações de calma das manhãs

E a misericórdia dos Céus.



Hérlon Fernandes Gomes

25 de Dezembro de 2012.

Guajará-Mirim, Rondônia, Brasil.


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

NOVA ORDEM MUNDIAL



Tá todo mundo bonito na foto.

Tá todo mundo na moda.

Tá todo mundo feliz na realidade alterada por álcool e "outras milongas mais".

É todo mundo rico e amado, sem preocupações com o amanhã.

É todo mundo autossuficiente, rebaixando o conceito de amor,

porque a ordem é a "pegação geral".

A onda é não ter limites!

"Eu quero. Eu posso. Eu sou o maioral.”

EU. EU. EU...

É tudo divertido, lindo e colorido...

Apenas na fotografia,

Apenas para o teatro em que uns são plateia dos outros.

Em casa, quando tua nudez te revelas,

Somente tu és testemunha da tua desolação, da tua solidão

E para esse drama, em incontáveis atos, não há público.

***

“Vamos pedir piedade!

Senhor, piedade!

Pra essa gente 'carente' e covarde!”


Hérlon Fernandes Gomes


07 de Novembro de 2012.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Lembranças


E quando eu remexo nessas fotografias e escuto essas canções que construíram um tempo feliz, minha alma dança em mim e eu me espalho todo feito perfume no tempo.

Então eu percebo o quanto as maiores felicidades da vida consistem em momentos efêmeros que, num pequeno espaço de tempo, eternizaram-se nas nossas lembranças, através de gostos, toques, risadas, beijos inesquecíveis, viagens únicas... 

Por mais que  tivéssemos vivido isso pelo tempo que fosse, ainda assim pareceria insuficiente perto da nossa sede insaciável de ser feliz.

Quando eu remexo nesse baú de lembranças, eu sou feliz novamente. Meu coração se acende em arrepios de alegria e isso é a melhor constatação de que estar vivo vale a pena, de que poder reencontrar velhos amigos, surpreender-se com amores do acaso, aventurar-se como adolescente... tudo isso é o que  dar cor ao mundo, é o que justifica nossa natureza pura.


Hérlon Fernandes Gomes

Guajará-Mirim, Rondônia - 9 de Agosto de 2012.

terça-feira, 19 de junho de 2012

INSTANTÂNEO



Na madrugada, só lembranças e anseios me embalam; só saudades de felicidades instantâneas me assombram;  só  a cinza do  cigarro e  desejos órfãos  me respondem....

Eu procuro me abandonar desses fardos imateriais, da angústia inevitável que se cria feito corais na minha alma. 

Então eu corro para o mar quando amanhece. Eu respiro fundo diante da praia, porque essa imensidão me abstrai e dilui meus quebrantos no balanço das ondas. Sim, é preciso lavar essa tristeza antes que ela transborde; é preciso esvaziar o salão para quando a felicidade chegar, encontrar tudo limpo, com luz de verão e sabor de maresia.

Vamos lá, grande vivente, arrume a aba do chapéu,  ensaie um novo sorriso ao tempo!

Hérlon Fernandes Gomes

19 de Junho de 2012.


Fotografia tirada no mar cearense. Praia de Morro Branco - Beberibe (Março de 2012)

terça-feira, 10 de abril de 2012

RITUAL DE SINTONIA COM O SAGRADO



Fecha os olhos lentamente. Visita o interior do teu coração e abre as janelas para espantar as brumas. Reorganiza tuas lembranças, apanha os cacos de vidro – resquícios de uma tempestade indesejada, mas necessária.

Quantas vezes o inverno te visitaste quando teu coração era tropical? Quantas vezes o viajante aventureiro pouco se importou com teu jardim bem cuidado e pisoteou desleixadamente  as flores ainda orvalhadas? Ainda assim o sol continuou a brilhar, a chuva cumpriu a promessa de chegada e tuas mãos tiveram disposição e encanto para evocar e despertar novamente a primavera.

Na tua solidão, sonda tua tristeza e escolha um sonho que possa fazer sombra sobre esta. O silêncio solitário pode te contar segredos de libertação.

Ao revirar tuas saudades, procura valsar nos recantos onde teu coração aprendeu a ser feliz, para que teu desejo queira novamente reencontrar esse itinerário guardado na memória indelével da tua alma.

Queima as cartas melancólicas, humilhadas e jamais enviadas. A tristeza alimentada pode ser um rio a crescer caudalosamente  para te sufocar na frente, entre as pedras amoladas de remorsos sem porquê.

Se ainda assim naufragares, mira o azul do céu e lembra que há um Deus, que por tua fé, pode te resgatar de qualquer hecatombe.

Sempre há tempo para a novidade. Sempre há esperança para descobrir que o brilho do teu olhar vale mais que ouro e prata.

Que tua promessa de felicidade seja a oração constante nos teus lábios – o teu querer mais profundo! E que o amanhã seja a distância mais longa até a alegria desejada.


Hérlon Fernandes Gomes


Guajará-Mirim, Rondônia. 10 de Abril de 2012.

P.S.: Para Ivan Frank Bezerra de Araújo, meu amigo-irmão, que sempre me colocou no altar da mais plena esperança, mesmo quando injustamente me julgava no fundo poço. Que você seja sempre a fortaleza de auto-estima que me inspira.

sábado, 10 de março de 2012

BRAINSTORM



Sedução. Desejo. Sorriso. Entrega de beijo sem fim, sem demora. Duas línguas navegando pela madrugada. Corpos em primavera, perfumes inéditos. Descanso, cansaço. Vontade de que o tempo se prolongue, que os segundos sejam preenchidos com toda a massa da vida. “Nós somos tão íntimos há quanto tempo¿” Skin. Sweet lips. Foi um punhado da melhor felicidade sob o manto do charme. O que vai ficar¿ A lembrança macia e colorida do teu ser – meu feitiço de eternidade dessas horas.

Fortaleza - Ceará, 10 de Março de 2012.

Hérlon Fernandes Gomes

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

VIVER É A MELHOR COISA QUE EXISTE



O ser humano é um bicho de esperanças inacabadas, intermináveis. A insatisfação nos é essa fome constante a exigir do mundo as plenitudes  de felicidades existentes somente nos nossos desejos, nos nossos “ses”.

Somos mendigos assumidos a pelejar pela rica e imaterial felicidade.

Hoje, dormi durante a tarde inteira. É um dos meus maiores luxos. Acordo espantando a preguiça, esticando braços, pernas... Levanto mais feliz. Esquento água, faço meu chá, ligo o som e me preparo para pedalar pelas ruas desta cidadezinha amazônica, onde o sol, no seu descansar, parece ter sido multiplicado por uma infinidade de vezes em tamanho.

E corro pensando no homem... E corro pensando em mim, nas minhas exigências, nos meus lamentos, nas minhas inquietudes... Às vezes me pego sorrindo quando uma lembrança feliz me cutuca a alma e eu só queria mais e mais desse caleidoscópio guardado a ilustrar meu íntimo com as tremeluzentes luzes da saudade.

Não, eu não fico desolado.  A saudade nem sempre precisa ser um marco definitivo do que foi sepultado. Ela é nossa memória sensitiva a nos despertar, no mais das vezes, que as alegrias podem se reconstruídas por incontáveis vezes no nosso ser. Então eu me apercebo que tenho tempo, tenho coração, tenho alma, tenho vida e paro para me dizer que essa pressa em ser feliz não pode nem deve nos afobar, porque a procura é o que nos move, é o que nos impulsiona. O alpinista, ao chegar ao cume da montanha, demora menos tempo a contemplar essa paisagem do que a escalar, a desejar e imaginar como é o alto.

O definitivo, o acabado, o pleno têm qualquer coisa de morte e estagnação em si. Já encontrei muitos potes de ouro em finais de arco-íris, mas nenhum se apresentou como o tesouro necessário às minhas ambições de menino, de homem, de santo.

Hei de procurar até o fim, em tardes assim, em que a neblina desenha pontes nos meus sonhos, mais uma porta para essas sensações que me abram sorrisos e que me digam que VIVER é a melhor coisa que existe.

Hérlon Fernandes Gomes

Guajará-Mirim, Rondônia - 08 de Fevereiro de 2012.



terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O VELEJADOR


Eu preciso encontrar essa porção de oceano onde as águas não sejam turvas;

Eu preciso de ventos que sinalizem uma ilha calma. 


Estou cansado de tempestades, de me guiar pelas estrelas pálidas


De quebrar gelo para abrir caminhos que não me prometem itinerários seguros.


Balança minha rede, surpreende-me com um beijo.


Publica tua saudade na areia da praia;


Rompe teu silêncio e me confessas teu amor.


Sem esse porto-seguro, continuarei a velejar pelo desconhecido


Em busca de um coração que me faça sentir abrigado.


Não posso adivinhar teu íntimo quando tua inércia transforma tudo em bruma.


Eu não quero um amor resignado, eu prefiro um amor desesperado


À monotonia do teu enigma de resposta sem surpresa.


***


Cansado...


De quebrar gelo para abrir caminhos que não me prometem itinerários seguros.




Hérlon Fernandes Gomes


La Paz, Bolívia - Abril de 2011. 


(Poema atrasado, resgatado de papéis perdidos)





domingo, 8 de janeiro de 2012

A última lua cheia


A ÚLTIMA LUA CHEIA

Ficou um silêncio tão grande deixado por tua ausência, que minha alma conseguiu ouvir as paredes balbuciarem uma oração de misericórdia a suplicar por teu retorno.

Ficou um frio tão grande nessa alcova, capaz de despertar espinhos na minha pele,

Por isso me cobri no calor do cigarro que odeias, mas aqui já não estavas para insultar meu beijo de nicotina.

Ficou um descampado tão grande neste quarto, que imprime à Nossa Senhora na parede uma maior compaixão por meu desterro.

Ficou um desvão tão grande no meu coração, que preciso me conter para não me evaporar nas lágrimas que se juntam na atmosfera quente desta última lua cheia de dezembro.

Hérlon Fernandes Gomes, Rondônia - 11 de Dezembro de 2011

P.S.: Para Alexsandra Meira Vasconcelos, que tem um coração que pulsa poesia.

Do inédito Lúmen - De corpo e alma - Poemas Profundos.

sábado, 7 de janeiro de 2012

O Medo de Amar





Como te fazer entender que não crer no amor é como permanecer numa espécie de morte em vida?


O que fazer, então, de tudo o que restou de nós? De tudo o que aconteceu e permanece vivo nas nossas saudades, a chamar, como um pedido de socorro, um pelo outro?

Que nome se dará à vontade que sinto por ti, além do gozo, que me faz querer ficar abraçado a ti durante a noite inteira?

Que alquimia faz teu gosto ser agradável ao meu paladar a qualquer hora do dia ou da noite, no despertar e no adormecer?

Dizes que em breve enjoarei de tudo isso, como um brinquedo pelo qual se perde o  encanto e, por isso, assassinas quaisquer possibilidades de felicidade duradoura...

O que faremos então com esse desejo que nos chama? Qual nome terá ele? Chamarei de angústia, chamarei de saudade até quando não nos vermos; até quando não nos encontrarmos, porque sei que depois de cinco minutos diante dos teus olhos estaremos a repetir nosso ritual de entrega, como se teu corpo fosse meu corpo, já que teu prazer tem reflexos iluminados no meu coração.

Meu discurso não é fácil, não é falso... Tua pele sabe a verdade do que sinto; teu cansaço final conhece a poesia da minha atenção.

Tenho medo de que teu medo de amar assassine tua melhor parte, estraçalhe a pureza sublime que conheci no teu despertar sonolento, no teu abraço apertado que mudamente gritava para permanecermos unidos sem tempo.

Eu vou fingir que tudo foi um instantâneo de fotografia, como esse retratos Polaroid que a gente esquece dentro de um volume perdido de enciclopédia e, quando resgatado, tem o poder de rejuvenescer toda uma existência.

Vou fingir não saber o que sentimos e, por não saber que nome dar à torrente de felicidade desses dias que ainda me encanta, dar-lhe-ei teu nome.

Hérlon Fernandes Gomes

Guajará-Mirim, Rondônia, 07 de Janeiro de 2012.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Principado da Paixão





Eu quis repetir em ti um desejo vivido


E sei que em mim estacionou um momento de paz


Incabível no espaço limitado das horas permitidas,


Eternizado no código secreto das minhas lembranças.


Renunciei ao sono


Enquanto afagava tua pele arrepiada por meus carinhos.


E eu poderia ficar assim indefinidamente:


Monge dos teus beijos,


Mucama dedicada a velar por teu conforto,


Meu caro príncipe.


Mesmo se um dia eu for para ti esquecimento,


Em mim, no baú dos sentimentos de luz,


A saudade te reconstruirá completamente para mim,


Em cor, gosto, quentura, cheiro e silêncio.


***


Derramei nas cachoeiras do teu reino as alegrias que transbordaram do meu coração.




Hérlon Fernandes Gomes


Chapada dos Guimarães, Mato Grosso.


31 de Dezembro de 2011.


P.S.: Para você, a coisa mais doce dos últimos dez anos.


Cachoeira da Serra Azul, distrito de Bom Jardim, Nobres - MT.