Não é tão simples assim se livrar de um desejo que nos tenta, que nos quer mudar a cor do tempo. Não é simples porque desejos assim prometem o êxtase da felicidade. Era assim que ele se lembrava daquela mulher, que tinha como enorme defeito estar casada com seu melhor amigo.
Era uma paixão platônica de anos, guardada no seu âmago como o mais perigoso segredo. Conseguiu se envolver em outros amores, mas a presença de Estela atormentava-o. Gostava de pronunciar seu nome em segredo, sentia-se um adolescente. Os olhos dela lhe diziam de uma cumplicidade de desejo, afogavam-se cheios de luxúria por três segundos que fossem...
Certa noite o amigo insistiu que tirasse Estela para dançar enquanto pegava uma bebida... Pensou em inventar uma desculpa qualquer para recusar o convite... Mas seria a primeira vez de uma maior proximidade de ambos. E que proximidade...
Ele ainda tem guardada a exata sensação da frieza das mãos dela e a gostosura que foi poder sentir sua silhueta roçar mais firmemente a superfície da mão... Corações aos pulos. Nenhuma palavra. De repente se olharam fixamente, muito além dos três segundos habituais, e aquele momento queimou os dois.
Nesse silêncio, disseram tanto de cada um... Ele enxergou o mesmo delírio de desejo e culpa que via em si, mas o arrepio de deleite que lhe avolumava as formas entorpeceu-o mais e mais. A música parou de tocar, era preciso rever o amigo.
— Não sabia que você dançava tão bem, Roberto!
— Danço? – retrucou meio sem jeito... Espero surpreendê-lo em mais oportunidades como esta, amigo!
Riram-se e brindaram.
Hérlon Fernandes Gomes
28 de abril de 2009