segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Instantâneo de Paz


Cafeína no sangue. Amargo e doce na língua. Sensação de vastidão em minha alma, de completude com a Graça da Existência de todas as coisas. Encho-me de planos bons, de esperanças que me consolam antecipadamente o futuro sempre incerto.

Meus pés estão fincados no tempo presente. Vivo cheio desses "agoras" determinantes. Meu coração calejou de sentir saudades e já bate no seu ritmo normal, mesmo quando Belchior canta "Meu cordial brasileiro" no som da sala.

Estou aprendendo a equilibrar-me entre a ingenuidade dos pombos e a esperteza das serpentes; a não ter medo do mundo, a me sentir íntimo das vastas estradas, de desconhecidos que me são tão gentis gratuitamente!

Ando tomado pela quentura viva de uma fé!... Quero encontrar a todo custo a essência mansa da felicidade e a cada dia sinto-a mais próxima: nos abraços que recebo, na simplicidade de emoções sublimes e inesperadas, no sorriso-ímã de quem eu desejo que seja o meu amor.

Meu sono está mais tranquilo. Meus sonhos têm mais sentido. Sinto Deus no Tempo. Tenho paz em mim.


Hérlon Fernandes Gomes
Guajará-Mirim, Rondônia - Sem data.

domingo, 13 de novembro de 2011

Firme e reticente



O mar me ajuda a não ter medo da dimensão dos meus dilemas. À medida que percorro a praia vou desfiando minhas interrogações nas pegadas que deixo na areia, nos suspiros profundos que despejo pela maresia.

Eu pensei que tua lembrança fosse ficar latejando em mim como a dor de um espinho que, mesmo depois de retirado, fica a impressão de que ainda está cravado. Não. És mais uma gaveta no meu arquivo de lembranças organizadas, das quais me permito perder as chaves para que a tentação de vasculhar essas nuances não me visite.

Eu também pensei que tudo fosse ficar com gosto de drama, que eu não conseguiria abrir as cortinas do quarto por pelo menos uma semana; mas tua franqueza me ajudou a me olhar no espelho e realmente tens razão quando dizes que minha luz não pode se dedicar apenas a ti. Minha luz é realmente inalcançável para tua treva egoísta, para teu medo pueril acostumado somente ao corpóreo, ao palpável, ao imediato.

Não te culpo, não me culpo. Não te quero insultar, mesmo o fazendo. O que mereces de mim agora? Meu silêncio já seria alguma coisa. Mas deixo nessa areia um rastro de minha poesia incompreendida, meu discurso vão para quem só foi capaz de sentir a volúpia da minha pele; para quem não teve alma de enxergar um palmo além do óbvio.

O mar está calmo. A luz é agradável. Consolo-me pelo que sei que sou. O Tempo é sábio e dá a duração que cada existência merece.

Hérlon Fernandes Gomes
Floresta Amazônica - Brasil

13 de Novembro de 2011.


sábado, 5 de novembro de 2011

CORAÇÃO MAMBEMBE



Queria encontrar a chave que rompesse o teu silêncio, porque tua mudez é um enigma, não me diz quase nada pelas tuas atitudes. Eu leio o teu desejo quando me beijas, quando nos deitamos juntos; mas estou longe de conhecer a zona profunda da tua alma, das tuas intenções, onde deve estar o ancoradouro desejado.


Queria o conforto de algumas certezas, queria enxergar tua nudez verdadeira onde tuas emoções descansam puras. Eu também me pergunto se mereço transpor o limite que me permites; eu me questiono se realmente saberei honrar teus tesouros preciosos. Então eu suporto teu mistério; suporto enxergar pelas  frestas  míopes das armaduras que te vestiste contra os que mal te amaram.

Meu coração mambembe, surrado pela poeira das distâncias e pelos espinhos do passado, já não possui ferrolho nem tramelas nas portas, deixa que o viajante entre e vasculhe todos os cômodos, que enxergue a tinta das paredes, sinta a cumplicidade dos móveis... Meu coração mambembe deseja abrigar bem,  longe de vaidades dispensáveis; precisa de morador que se preocupe com as plantas que amarelecem no alpendre, que se deite na rede cativa estendida na varanda.

Não, meus segredos não te assustariam. Minhas desilusões talvez te fizessem chorar; mas elas já foram todas exorcizadas e tornaram mais fortes as paredes deste coração  que pretende ser tua casa. Para cada cicatriz eu também tenho um sorriso; nenhuma tristeza em minha vida foi maior  que qualquer felicidade encontrada.

Agora estamos nós dois, na tua cama. Aliso teus cabelos, sinto tua quentura, desfruto da maciez dos teus lábios... Atravessaríamos a noite assim, sem que me reveles o princípio dos teus anseios, sem que me digas o que realmente pensas ao meu respeito, embora me saiba agradável ao teu lado...

Não, eu não vou atropelar teus passos; não vou vilipendiar a constância do teu tempo. Meu coração mambembe, de terras ressequidas, sempre aprendeu a viver cheio de esperanças, mesmo quando o céu mais azul não prometia chuvas.

Hérlon Fernandes Gomes
Guajará-Mirim, Rondônia
05 de Novembro de 2011.