quinta-feira, 23 de julho de 2009

O PERFUME


Já ouvi de muitas pessoas a unanimidade de que as fotografias, o perfume e a música são os maiores eternizadores de lembranças. Estou há alguns dias com um perfume que me desenterra momentos tão bons... Aí vem você e me diz que quando gostamos de um perfume não devemos forçar muito a memória para relembrar seu aroma; mas sim, devemos buscar a fonte. Simples, não?
Seria simples se tudo o que desejássemos estivesse ao nosso alcance com um estalar de dedos, ou se não houvesse nenhuma distância incômoda a nos separar nesses quilômetros angustiantes. Seria simples se seu passado não retornasse e impedisse que vivêssemos nossas emoções; se você não tivesse medo de pronunciar meu nome proibido enquanto dorme ao lado de quem desconheço.
Mas seu perfume ainda insiste em reconstruir todos os seus detalhes. Ele se entranhou até mesmo em minha garganta, nos soluços que me engulo ao me lembrar das nossas volúpias, da profundidade oceânica dos seus olhos, da maciez aconchegante da sua pele quente...
Quisera também fosse simples poder camuflar esse cheiro que me retorna; todavia ele é único, nenhum perfumista conseguiu sintetizá-lo nem ninguém trará consigo a mesma variação. Então, minha mente me enlouquece relembrando-o, procurando em mim esse feitiço que você me deixou pela língua, encravado nos meus poros, nas minhas amígdalas, no meu sexo, na minha insônia...
Vou até o jardim. Lá, procuro destrair-me entre aromas de flores que nem de longe trazem o conforto do seu perfume.

Hérlon Fernandes Gomes

Brejo Santo – CE
23 de julho de 2009.