quarta-feira, 12 de novembro de 2008

FIM DE VERÃO (INDIFERENÇA)

Ele sentia que o silêncio dela esgotara-o por completo. Já tinha dado o tempo necessário para que ela se manifestasse numa atitude mais engajada. Aguardou por uma surpresa que fosse, algo inusitado; mas ela parecia incapaz de algum movimento a esse respeito. E os ideais dele foram novamente de água a baixo...

Talvez a liberdade que se permitiram tenha contribuído para o fim do que não começou. Qual a base de um relacionamento entre dois amantes clandestinos? O que os movia era meramente a química do sexo, essa vontade maluca de um devorar o outro para se arrepiarem no final... Isso era tão explosivo, isso era tão... Mas não era o bastante. Também não havia o que lamentar – não existiam laços que os prendessem; nenhuma história mais consistente seguraria uma conversa mais profunda... A sinceridade com que se tratavam aniquilou qualquer possibilidade de fantasia. Mundos diferentes, gostos diferentes...

Era necessário colocar um ponto final em tudo aquilo porque ele tinha medo de como as coisas se enraizavam sorrateiramente no seu íntimo e não queria ir embora tendo a impressão de ter esquecido uma parte importante de si. A despeito da informalidade que revestia aquele acordo do instinto, escolheu a indiferença pura e simples como resposta a esse final de relacionamento incomum. Sentiu dentro de si todo o cinza que cobria o final da tarde. Precisaria de um guarda-chuva.

Passou a desejar ser o plano feliz de alguém.

Hérlon Fernandes Gomes

12 de Novembro de 2008.


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