É aqui onde me ajoelho e beijo a terra,
Corpo da metafísica enigmática da semente.
É nesta terra onde sepulto silenciosamente meus dramas
Porque ela me conhece as linhas do coração
Como o sabe o quilate dos seixos enveredados de onde persigo.
É aqui onde me dispo, porque aqui aprendi a ser nu,
Natural como os marmeleiros que perfumam as cercas,
Livre como a luz, inconsequente ao invadir a escuridão.
É aqui onde não me perco, porque todos os ventos me são cúmplices,
O tempo me entrega os ponteiros e eu escolho as eras:
Visito praças em que ainda sou menino,
Enceno em palcos que me quis artista
Brindo em copos com quem só fui festa.
É aqui a estação de onde mais me dói partir
Porque minha mãe me acena distante do trem
Enquanto me abençoa os sonhos e me prediz o melhor futuro.
É aqui onde me reconheço e por isso retorno
Quando a essência de mim sugere se esquecer
Então eu volto em busca dos originais contornos
Ao som das zabumbas, com gosto de peroba,
Esquecido de angústias, animado de encantos.
***
É aqui onde me ajoelho e beijo a terra,
Porque esse chão me sabe ser firme e santo.
Hérlon Fernandes Gomes
14 de Abril de 2013
É a primeira coisa que escrevo assim diretamente sobre minha terra. Hoje estava lendo Drummond, num famoso poema em que ele relembra sua cidade mineira: "Itabira é apenas um retrato na parede, mas como dói". Revendo fotografias e memórias, bateu-me essa dor de saudade e então me dei conta do quanto Brejo Santo é importante para mim como ser humano, porque é minha raiz, foi daí de onde recebi as primeiras impressões do mundo. Felizmente, Brejo Santo não é somente um retrato na parede. Retorno sempre que possível e me sinto sempre mais revigorado e mais certo de mim. Um abraço a todos os conterrâneos. Saudade é minha canção recorrente.
Especialmente, esta fotografia de Glauber Oliveira me serviu de combustível catalisador no caminho desse poema fácil, porque presente singelo e sincero da alma. Continue imprimindo seu olhar poético pelos recantos do nosso torrão, amigo!